“Novembro 9”, Colleen Hoover

Por Carolina Cardoso

De volta ao mundo de Colleen Hoover, nos deparamos com outra de suas excepcionalmente dramáticas obras. “Novembro 9” conta a história de Fallon e Ben, dois jovens adultos aos quais somos apresentados no fatídico 9 de Novembro. Fallon é uma jovem de 18 anos cuja carreira promissora de atriz foi abruptamente encerrada por um trágico acidente dois anos antes, quando a garota teve trinta por cento de seu corpo queimado em um incêndio. A desfiguração de Fallon tornou-se uma grande dor e também uma forte insegurança, deixando-a desconexa da sua vida tanto profissional como afetiva, ela não mais podia exercer a profissão e não conseguia encarar relacionamentos, tendo sua autoestima bastante afetada. Ben, por outro lado é um malfadado escritor em vias de desenvolvimento, que parece perdido em seu caminho.

A premissa elementar da trama consiste em nosso dois protagonistas encontrarem-se por acaso do destino, ou assim pensamos ser, em um 9 de Novembro pouco antes de Fallon se mudar para Nova York e ali viverem um dia intenso juntos, com conversas profundas e significativas que pontuam uma conexão entre ambos. Fica determinado ao fim desse mesmo encontro que eles devem voltar a se encontrar no ano seguinte, na mesma data e no mesmo lugar não importando o que acontecesse ou onde estivesse, e pasmem, sem manterem qualquer contato por ligação ou mensagem. E assim se repete pelos próximos cinco anos onde nossos protagonistas constroem uma relação com encontros anuais no que deveria ser o pior dia da vida de Fallon, visto que é a data de seu acidente e passam a transformar um triste aniversário em algo novo e cheio de esperança.

Bem, Colleen merece crédito por conseguir tornar uma premissa tão dispersa da realidade minimamente crível nas páginas do livro. A ideia de insta love já é avessa aos gostos dessa que vos escreve, mas ainda assim é possível, graças a maestria da autora, “comprar” o fato de os dois estarem de fato atraídos e intrigados um pelo outro, ela não nos apresenta algo do tipo “eu te vi apenas hoje e já estou perdidamente apaixonado”. Colleen sabe muito bem como acessar os sentimentos de seus personagens gradualmente e traduzi-los de modo a alcançar o leitor. Arrisco dizer que se não fosse por seu talento ímpar, esse seria um dos piores livros já escritos.

Falta aquele aspecto de realidade e verossimilhança tão caro de Hoover. O dramalhão parece quase forçado de mais. Soa como uma novela mexicana com tragédias se entrelaçando a tal ponto que chega a desconectar o leitor da trama, tamanha a falta de respaldo do real. O leitor pode se pegar uma ou duas vezes encarando as páginas à sua frente com uma expressão de descrença e se perguntar “como isso é possível?”. Não soa real, isso é um fato. Ainda assim, pode e vai envolver o leitor em diversos momentos mais brandos, quando nossa autora simplesmente retrata um casal em vias de se apaixonar.

Por fim, aos amantes de Colleen Hoover e interessados, saibam que não é nem de perto seu melhor trabalho. Tem sim muitas características da autora como sua forte capacidade de conectar leitor e personagem, seu apelo ao drama, ainda que nesse caso ela se exceda em alguns momentos, e é claro o fatídico efeito Colleen de não conseguirmos largar suas obras quando começamos a lê-las. Mas também, peca em diversos pontos, em especial trazendo uma premissa e um plot pouco críveis. Vai ser difícil o leitor comprar essa história e mais ainda continuar apegado aos personagens reveladas suas atitudes esdruxulas, em determinados momentos ela perde aquela conexão tão verdadeira pela qual sempre é elogiada e então, também nós nos distanciamos da trama o que é uma pena sendo ela uma autora tão letrada em histórias realistas e bem trabalhadas com enredos dramáticos ao extremos, mas ainda assim criveis e verossímeis.

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