Por Aster Leite
Antecessor e referência para a criação do vampiro mais famoso da literatura, Drácula de Bram Stoker, o romance de Carmilla, escrito por Sheridan Le Fanu (1872), foi a primeira história na língua inglesa a manifestar tal criatura como uma presença feminina.
Sheridan Le Fanu nasceu na Irlanda, Dublin (1814-1873) e estudou em casa até os quinze anos, filho de um clérigo da igreja da Irlanda. Ainda que graduado em direito pela Trinity College, seguiu sua carreira de escritor. Autor de obras notáveis e contos curtos como “Green Tea”, começou seu ofício na escrita com publicações em revistas pequenas, mas sua fama crescendo rapidamente e se tornando dono de grandes jornais. Suas histórias exploram temas fantasmagóricos, demoníacos e sobrenaturais com o intuito de narrativas inquietantes e perigosas voltadas à população vitoriana.
Sua revolução e influência na literatura gótica ainda são sentidas, embora o nome de Le Fanu seja pouco recordado em relação a seus semelhantes no gênero horror. No entanto, seu modo de escrita e suas histórias lhe garantiram seu lugar no meio dos pioneiros da literatura gótica no século dezenove.
O livro conta a história pelo ponto de vista de Laura, uma jovem que mora com o pai em um local remoto da Estíria. Um dia, eles testemunham um acidente de carruagem perto de suas terras e do veículo acidentado surge uma jovem frágil chamada Camilla Karnstein, que logo é convidada a morar na casa de Laura por sua misteriosa mãe. A vampira que sente seu desejo direcionado para mulheres e as escolhe como alvo, não se delonga a exercer sua influência sobrenatural sobre a garota, despertando a paixão entre as duas.
Grande parte do livro tem seu enfoque no envolvimento da personagem e nos mistérios que surgem em torno da mansão de Laura após a chegada de Camilla e eventos inexplicáveis e mortes misteriosas continuam a ocorrer, alimentando a atmosfera de suspense.
A exploração de temas como desejo, sedução e morte são o ponto forte da trama e no entanto a ousadia de um romance entre mulheres fora a causa da supressão da obra no século dezenove. Hoje, o romance é visto como parte dos precursores da literatura queer, trazendo novas perspectivas e explorando barreiras sociais nas questões especialmente das relações entre mulheres, visto que o conto de Bram Stoker possui em seu caráter aspectos homoeróticos e ainda que praticamente do mesmo período, eram entre os únicos cidadãos de valores válidos para a época: homens com poderio consideráveis acima. Mulheres e figuras femininas assumindo papéis de protagonismo e desejos próprios não vinculados e direcionados à masculinidade por si só eram incabíveis.
Além disso, o trabalho de Sheridan Le Fanu foi adaptado em diferentes formas ao longo dos anos, se estendendo do formato original e habituados a jogos, filmes, séries, desenhos e mais.