Por Karoline de Souza
A Dr.ᵃ Karla Daniele de Sá Maciel Luz é professora do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco, é coordenadora do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão, Reitoria e atua há mais de vinte anos desenvolvendo trabalhos voltados para a inclusão social de pessoas com deficiência, nos mais diversos aspectos e diretrizes sociais. O e-book escrito pela autora está disponível no site da universidade (aba do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão) e apresenta a versão com tradução em LIBRAS e áudio livro. A obra “Inclusão Começa em Mim: crônicas inclusivas” foi produzida através de experiências e de colegas da autora na graduação e posteriormente na sua atuação profissional.
Lançado em 2023, o livro é organizado pelo prefácio, apresentação, crônicas e textos poéticos escritos de modo simples, de fácil compreensão para que todos os tipos de público possam compreender que incluir é simples, preciso e possível (Luz, 2023, pág. 18). Tema muito discutido atualmente, a inclusão de pessoas com deficiência não se dá exclusivamente na educação, mas no mercado de trabalho, na saúde, no transporte, no lazer e nos mais diferentes espaços. Na obra, a autora reforça que a inclusão não começa no outro, mas sim em nós, justificando o título. Entendendo que a inclusão não está relacionada a espaço físico, também é colocado que é um dever de todos, na vida pessoal e nas atividades laborais.
Já no prefácio, escrito pela jornalista Lara Cavalcanti, é destacada a necessidade de mudar conceitos, falas e visões para que a transformação seja possível. Para ela, nós também devemos ser agentes da transformação, começar dentro de si e o conhecimento que carregamos sobre inclusão pode mudar situações e ensinar outras pessoas a conviver com a diversidade e cobrar gestores públicos a efetivação de direitos para garantir o acesso e permanência de pessoas com deficiência e remover as diferentes barreiras.
Na apresentação, a autora nos conta como o livro surgiu e relata sua trajetória com seus trabalhos em inclusão, iniciados em 1999, quando estava cursando o 1º período de Psicologia no curso de Libras. Segundo ela, convivendo pela primeira vez com a comunidade surda, quanto mais estava entre estes, mais seus preconceitos e sua forma assistencialista vinham à tona. Durante os anos que se seguiram, vivenciou diversos acontecimentos na sociedade, mas principalmente nela própria.
Logo no primeiro capítulo, o leitor é convidado a fazer um exercício de registro para identificar em si seu preconceito, a aprender com seu capacitismo e ser anticapacitista. Esse exercício nos faz refletir sobre o que impossibilita a sociedade de ser inclusiva e acessível. No final deste e das próximas crônicas, o leitor irá se deparar com o que a autora chama de “Princípio Inclusivo”, breves trechos que esclarecem as diferentes formas de inclusão nas suas mais diversas esferas.
Princípio de Inclusão:
- Paremos de apresentar os aspectos sempre marginalizados da deficiência (tragédia, dificuldade, tristeza, limitação, etc.) e apresentarmos a diversidade da vida inserida nela. (Luz, 2023, p. 26)
Cada capítulo apresenta ao leitor uma vivência, uma experiência que o envolve nas narrativas, suscitando diferentes sentimentos no decorrer da leitura. A autora ainda discorre sobre os conceitos de deficiência apresentados em dois modelos vistos na sociedade. Trazendo uma história fictícia para explicitar estes modelos, fica claro como a deficiência é vista e entendida e que suas limitações não se encontram no indivíduo, mas na própria sociedade que coloca diferentes barreiras para a plena participação das pessoas com deficiência.
Nos textos poéticos, o leitor é submerso por questionamentos, narrativas profundas que provocam reflexões sobre nossas condutas com pessoas com deficiência. O livro é de fácil leitura, fluido e indicado para qualquer pessoa que tenha interesse no tema. Profissionais da educação, da saúde, de qualquer área, mães, pais, família, amigos de alguém com deficiência ou interessados no tema são convidados pela autora a mergulhar no mar de narrativas inclusivas e compreender que a inclusão é simples e a maior barreira somos nós e toda estrutura social.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)