Filme: “Anatomia de uma Queda”

Por Lohani Felix

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O filme se inicia com uma entrevista entre a escritora Sandra Voyter (Sandra Hüller) e uma jovem acadêmica sobre os livros da autora. Conversa flui, assim se estabelece um clima amistoso ali, até que o ambiente é rompido pelo instrumental de P.I.M.P, do rapper americano 50 Cent, em alto volume e tocando repetidas vezes. Sandra tenta continuar a entrevista, explicando que o seu marido, Samuel (Samuel Theis), utiliza a música para se concentrar no trabalho; contudo, a conversa entre as duas se encerra por conta do barulho ensurdecedor. Após isso, o filme mostra o filho do casal, Daniel (Milo Machado Graner), passeando com o seu cão Snoopy (Messi) na neve, deixando Sandra e Samuel sozinhos em casa. Retornando ao local, o menino encontra o seu pai caído na neve, com um rastro de sangue em volta do homem, que naquele momento já se encontrava morto. Ao se deparar com essa cena aterrorizante, Daniel começa a gritar desesperadamente pela mãe, que atende ao chamado e liga para as autoridades assim que toma conhecimento do incidente. Uma investigação policial se inicia, entretanto, não se chega a uma conclusão. Teria Samuel cometido um suicídio? Ou teria sido um trágico acidente doméstico? Ou ele foi vítima de um assassinato?

Após se passar um ano do ocorrido, Sandra vai a julgamento pelo possível assassinato do seu marido. Em um primeiro momento, a película se concentra em discutir a queda de fato; todavia, com o decorrer do filme, nota-se que o foco se encontra na “queda” do casamento dos protagonistas. A explicação da fatídica ocorrência se dá em partes, como um estudo anatômico, que vai desde o acidente de Daniel ocorrido anos antes — em que o menino fica cego — até a violenta briga — onde o homem não se encontra feliz com o momento atual da sua vida — ocorrida um dia antes da morte de Samuel. Outro ponto importante é que tudo apresentado tanto pela acusação quanto pela defesa é dúbio, o que vai de encontro com o fato trazido ao julgamento, da escritora misturar ficção com realidade em suas obras.

Com ótima atuação de Hüller — indicada ao Oscar pelo seu trabalho nessa obra — Milo e o cachorrinho Messi, o filme é, na minha opinião, uma ótima opção para assistir, uma vez que leva a questionamentos importantes, como, por exemplo, se de fato conhecemos a pessoa com quem vivemos diariamente. Chegou a um momento em que não me importava com a fatalidade, e sim com a dissecação do relacionamento exposto, o que acredito ser a tônica do filme, visto que no final fica aberto se Sandra matou ou não Samuel. Essa película é o verdadeiro significado de obra-prima, sendo extremamente interessante acompanhar a vida da Capitu alemã.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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