Filme: “Pobres Criaturas”

Por Iuri Nascimento

Poor Things:  A Incrível E Destemida Frankenstein Bella Baxter

Poor Things (Pobres Criaturas) é uma obra fascinante que explora a ética científica, a moralidade e o poder humano sobre a criação. Baseado no livro homônimo de Alasdair Gray de 1992, o filme lançado em 2023, dirigido por Yorgos Lanthimos e roteirizado por Tony McNamara, explora temas satíricos e provocativos da era moderna enquanto desafia os padrões tradicionais de narrativa.

Emma Stone interpreta lindamente Bella Baxter, uma jovem mulher que é ressuscitada dos mortos pelo misterioso cientista Dr. Godwin Baxter, personificado por Willem Dafoe. Bella, também conhecida como Victoria, é uma mulher forte e independente que, depois de ser ressuscitada, se vê presa em um mundo estranho dominado pelo cientista e seu conceito distorcido de controle e poder.

A história faz, a quem assiste, pensar na dualidade da condição humana: podemos fazer maravilhas e monstros, destruir e construir, amar e temer. Somos obrigados a questionar nossas próprias contradições morais à medida que Bella navega pelas complexidades da existência. 

Os laços que surgem entre os personagens, que são muitas vezes imprevisíveis, mostram a capacidade do ser humano de encontrar esperança e angústia. O personagem Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) é um exemplo legítimo de como a protagonista enfrenta as dualidades da vida. Bella, ao mesmo tempo que ganha esperança de desbravar o mundo, recebe a angústia de estar submetida aos prazeres e luxúrias de Duncan, que tenta regular os comportamentos dela. 

Entretanto, por mais que a jovem esteja sob os domínios de Wedderburn, encontra seu momento de felicidade. Durante o cruzeiro rumo a Paris, Bella conhece a destemida e inteligente senhora Martha Von Kurtzroc (Hanna Schygulla) e o imponente e sério Harry Astley (Jerrod Carmichael). Ambos os personagens ajudam a jovem Baxter a obter conhecimento e lidar com a cruel realidade da vida. Enquanto Martha amplia a visão poética e encantadora através da literatura, Harry abre os olhos inocentes da jovem para a triste e dolorosa miséria que os moradores de Alexandria enfrentavam.   

A exploração da natureza humana e a busca pelo conhecimento são um dos aspectos mais fascinantes do filme. O Dr. Baxter ultrapassa os limites morais ao brincar com a vida e a morte em sua busca por fama e reconhecimento. Ele transforma Bella em uma figura que serve aos seus próprios interesses, moldando-a de acordo com sua própria visão distorcida. Essa dinâmica de poder é ilustrada com precisão, levantando questões éticas importantes sobre o papel da ciência e a responsabilidade moral dos cientistas.

Além disso, Poor Things faz uma crítica sarcástica à sociedade patriarcal e à dominação masculina sobre o corpo das mulheres. Bella é tratada como uma peça de xadrez em um jogo de poder em que os homens ao seu redor a questionam e manipulam. O filme desafia os conceitos obsoletos de feminilidade e submissão, mostrando Bella como uma personagem intrincada e diversa que busca a independência. 

Toda a obra mostra o estilo distinto de Lanthimos; seus diálogos curtos e sua cinematografia única adicionam profundidade ao enredo. O mundo surreal que o diretor criou é tanto atraente quanto perturbador, incitando o espectador a questionar as convenções sociais e os limites da moralidade.

Cada elemento visual, desde a direção de arte até a cinematografia, é minuciosamente projetado para atrair o espectador para o mundo sombrio e intrigante que é mostrado na tela. Cada cena é uma obra de arte em si mesma, com muito simbolismo e significado oculto que permite várias interpretações. 

Poor Things é mais que uma obra cinematográfica para mostrar conceito. É para causar uma reflexão provocativa sobre ética, natureza humana, poder e livre arbítrio das mulheres. O filme convida os espectadores a questionarem suas próprias crenças e valores ao desafiar as convenções narrativas e estilísticas, tornando-o uma experiência inesquecível e atemporal.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 


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