Livro: “Se não fosse por você, eu não estaria aqui”, Vários autores

Por Giovanna Lima

O livro se trata de uma coletânea de cartas escritas por autores nacionais e membros do mercado editorial endereçadas a seus “eus adolescentes”. A proposta é interessante e foi ainda mais tocante por ter sido lançada em plena pandemia, a qual, por diversos fatores, mas principalmente pela incerteza, deixou o público jovem desanimado com o futuro. 

Acredito que tenha sido uma tentativa da editora de conseguir curar ou dar alguma esperança aos corações atribulados da época, fazendo com que pessoas que esses jovens admiram ficassem um passo mais perto naquele momento em que a distância física colocava todos em seus limites. 

As cartas são curtas, não passando de 2 ou 3 páginas, onde os autores falam do que querem com seus antigos ‘eus’. Muitos iniciam como qualquer outra carta que poderia estar vindo do futuro, desafiando as mentes jovens a imaginarem como aquilo era possível (finalmente uma máquina do tempo havia sido inventada?  Seria agora o planeta Terra um local fruto de magia? Deveria contar coisas ao meu eu do passado e interferir com a linha tempo-espaço?), e de certa forma, tornando a realidade que vivemos agora um espaço de comparação ao quanto poderia parecer loucura para o nosso ‘eu’ 10 anos mais novo de que, o que é tão natural hoje em dia, era algo inimaginável há tantos anos. 

Muitas cartas têm a pegada mais leve, cheia de promessas de realizações que aconteceram e de sonhos que eles nem conseguiam imaginar que podiam realizar em seus mundos ainda muito limitados. Os autores mostram conhecer-se melhor do que ninguém e como muitos não acreditariam onde haviam chegado se algum dia realmente fosse possível fazer esse tipo de transação com o passado. 

É inspirador ver onde aquelas crianças cheias de sonhos, ansiedades e planos chegaram e como ainda não trilharam nem ⅓ da vida que têm pela frente. Se eles chegaram a lugares tão felizes, qualquer um pode chegar, não é mesmo? O tom de carta para o passado traz a sensação de proximidade com os autores, como se fossem nossos amigos, como se, de algum modo, as cartas fossem para nós e estivessem prometendo que, mesmo que agora não parecesse, tudo ficaria bem. 

Mesmo lendo o livro fora da pandemia, acho que ainda é uma leitura que pode agregar a todas as pessoas, de todas as idades. Sabemos que não é necessário estar trancado em casa para ter dúvidas sobre o futuro, e em um mundo mais globalizado do que antigamente, é ainda mais fácil se perder na ansiedade do que está por vir e do que seremos capazes de fazer ou até onde vamos chegar. 

O livro acaba trazendo um tom de tranquilidade, aceitação e promessas veladas de um futuro próspero, mesmo para as almas mais perdidas. Em especial, um autor, negro e gay, chama a atenção entre todas as cartas. É ele quem diz a si mesmo que, mesmo por tudo o que vem e vai passar, que aguente mais 5 minutos e depois mais 5 e depois mais 5. Ele se abre com o público de maneira tão íntima, que é impossível não sorrir, sabendo que ele aguentou, que ele sobreviveu a seus piores dias e pensamentos. 

Estar preso dentro de sua própria mente às vezes pode ser um desafio muito grande para enfrentar sozinho, e a pandemia é um grande reflexo disso. Estávamos todos presos dentro do lugar que deveria nos trazer mais conforto, nossa própria casa, mas quantas pessoas não sentiram sua saúde mental esvaindo pelos dedos? Quantas pessoas não tiveram que passar sozinhas por períodos de luto inquebráveis e por batalhas silenciosas? Ficamos vulneráveis quando estamos sozinhos e esse período mostrou como, em sociedade, ainda sabemos dar as mãos uns aos outros. 

Acredito que esse é um dos trabalhos mais pessoais da Editora Seguinte que eu conheço e me fez lembrar que, mesmo não estando mais em pandemia, ainda assim não estamos sozinhos. 

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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