Por Helena Almeida
Apesar de escrito por um dos principais nomes dos gêneros de terror e de suspense, o livro “Conto de fadas” se enquadra no gênero fantasia, como o próprio nome sugere. A obra possui 623 páginas e é narrada em primeira pessoa. Apesar de longa, sua leitura é bastante fluida. Algo interessante sobre a obra é que, por ser um livro escrito em 2022, o narrador apresenta informações e comparações bem contemporâneas.
A obra introduz a história de vida de um jovem, ainda no colégio, chamado Charlie. Com o fato trágico da morte de sua mãe, seu mundo desmorona. Seu pai se culpa pela morte de sua esposa e começa a beber até não sentir mais nada, todos os dias apagando no sofá. Apesar de dizer que irá parar, seu filho sabe que são falsas afirmações. Assim, Charlie, mesmo jovem, se sente responsável pelo seu pai e pela casa. Até que, certo dia, ao passar por uma casa na vizinhança, escuta um latido e um pedido de ajuda. Mas não era somente uma casa, e sim a “casa do Psicose”, onde vivia um senhor recluso com sua cadela ‒ que até então, Charlie pensava ser um macho. Ao ver a situação do idoso, o jovem decide chamar uma ambulância. Howard pede que Charlie fique com sua cachorrinha, já idosa, Radar. A partir desse momento, é criada uma bela amizade entre um jovem, um senhor e uma cadela.
Ao deixá-lo responsável pela tarefa de alimentar Radar, senhor Bowditch começa a ter mais confiança no rapaz e pede que ele suba para o segundo andar da casa e abra o cofre. Dentro ele encontra um cinto com uma arma e, do lado, algo que não espera, um balde de bolinhas de ouro. A partir daí, Charlie entra em uma aventura para trocar esse ouro por dinheiro em uma loja que o senhor havia lhe contado. Esse dinheiro serviria para pagar o hospital do idoso. Charlie concordou com essa aventura, mas não lhe saiu da cabeça de onde vinha tanto ouro? Com o que esse senhor trabalhava antes?
Com a morte do Howard, Charlie recebe uma ligação dele falando de uma carteira, um molho de chaves e uma fita para ele escutar. O conteúdo da fita lhe revelará um segredo inimaginável: um portal para um novo mundo. E assim começa a gigante história do livro “Conto de fadas”. Essa parte da história que lhe contei acima é um quarto de todo o livro. Muito ainda tem por vir, mas irei parar por aqui para evitar spoilers.
Agora, sobre a escrita e o livro, alguns fatos me chamaram a atenção, principalmente a variedade de literaturas citadas no decorrer do livro. Vale ressaltar que essa foi apenas minha segunda experiência com livros desse autor e minha convivência com contos de fadas não foi muito grande durante a infância ‒ meus conhecimentos resumiam-se às princesas clássicas popularizadas nas produções da Disney. Assim, a menção ao personagem Rumpelstiltskin foi algo peculiar, e infelizmente posso ter perdido algumas referências. As diferenças de versões nos contos, também foram mencionadas no livro, tais como os contos de fadas para um público infantil ser uma adaptação aos contos dos Irmãos Grimm, que apresentam contos com conteúdos mais “pesados”.
“Rumpelstiltskin” era pior ainda. Na versão que eu lembrava vagamente, o velho Rumpel fugia com raiva quando a garota encarregada de fiar palha para que virasse ouro adivinhava o nome dele. Na versão de 1857 do livro dos irmãos Grimm, ele enfiou um pé no chão, segurou o outro e se partiu no meio. Eu achei que era uma história de terror digna da série Jogos Mortais. (pág. 201)
Além de uma belíssima crítica ao real e ao imaginário. Por que animais falantes são tão temidos por nós, mas um objeto com o qual você consegue conversar com pessoas em outros países, não é?
“E a magia, você pergunta? […] Eles consideravam normal. Se você acha isso estranho, imagine um viajante no tempo sendo transportado de 1910 para 2010 e encontrando um mundo onde as pessoas voam pelo céu em aves metálicas gigantes e andam em carros que atingem cento e cinquenta quilômetros por hora. Um mundo em que todo mundo anda por aí com computadores poderosos nos bolsos. Ou imagine um cara que só viu alguns filmes mudos em preto e branco sendo colocado na primeira fila de um cinema IMAX para ver Avatar em 3D. A gente se acostuma com o fantástico, é isso. Sereias e IMAX, gigantes e celulares. Se é no seu mundo, você aceita. É maravilhoso, né? Mas, se olharmos de outra forma, é horrível.” (pág. 436 e 437)
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)