Por Vitor da Hora
A Redoma de Vidro (The Bell Jar em inglês) é o único romance da escritora e poetisa estadunidense Sylvia Plath, publicado no ano de 1963, poucas semanas antes de sua morte. Originalmente o livro foi publicado sob o pseudônimo Victoria Lucas. Sylvia ficou conhecida como um dos grandes expoentes da chamada poesia confessional, em seus poemas Plath retratava sua luta contra a depressão; Plath viveu um relacionamento abusivo com seu marido, o também escritor Ted Hughes, e se suicidou aos 30 anos de idade, em 1963. Entre seus livros mais célebres estão a coletânea de poemas Ariel (1965) e seus diários (1982), ambos publicados postumamente. Em 1982 Plath recebeu um prêmio Pulitzer póstumo, e o legado de sua obra continua a ser constantemente revisitado, principalmente para se pensar a realidade das mulheres no século XX.
O enredo conta a história de Esther Greenwood, uma jovem mulher que sai de um subúrbio de Massachusetts após ganhar uma bolsa de estágio em uma famosa revista de moda em Nova York. Assim como a autora, a personagem é filha de imigrantes alemães – inclusive um dos poemas mais célebres de Plath, Papai, cuja inspiração é comumente atribuída ao pai da autora, emprega controversas metáforas com o Holocausto. Em certo ponto do livro, após uma tentativa de suicídio, a personagem é internada em uma clínica psiquiátrica – tal qual ocorreu com a autora, no ano de 1952, em que chegou a ser submetida a tratamento com eletrochoques. Ao longo do livro, o leitor mergulha dentro da mentalidade depressiva da protagonista, que se vê angustiada entre qual caminho seguir: continuar com sua bem encaminhada carreira acadêmica e alcançar prestígio, ou arranjar um casamento e levar uma vida de dona de casa. Os anseios não realizados de Esther a levam a uma depressão profunda, e a personagem se fecha dentro de seus próprios pensamentos, como na redoma referenciada no título do livro.
Por conta do caráter semi-autobiográfico da obra, a leitura é intrigante visto que o texto também pode ser interpretado como um relato íntimo da autora. Apesar do teor feminista da obra, a escrita de Plath peca ao empregar pontualmente expressões e esteriótipos racistas – fato que não causa estranhamento se considerar que a autora era uma mulher branca de classe média alta, mas é importante de ser problematizado. Dito isso, o livro apresenta excelentes reflexões e problematizações acerca do papel da mulher dentro da sociedade liberal do ocidente dentro de um contexto de pré-liberação sexual (fins da década de 1960), contudo não deveria ser considerada uma obra vanguardista nesse quesito, pelos motivos citados anteriormente. A escrita do livro transita magistralmente entre a leveza e densidade, à medida que o quadro depressivo de Esther se agrava, e possui um ritmo não-linear, cortado por recorrentes flashbacks da protagonista para explicar as origens de alguns dos seus tramas – sendo um retrato sensível e sincero de como é conviver com a depressão. Por tratar de um tema tão pesado, o leitor deve estar ciente e preparado antes de iniciar a leitura, visto que se trata de uma exposição mais que íntima sobre como funciona a depressão.