Por Lara Maia
A obra é um desses clássicos que parecem ter nascido em nossa memória. Seja por tantas referências e adaptações que encontramos por aí e absorvemos sem saber. Mas a sensação é que já conhecemos a história, mesmo sem nunca termos tido a experiência completa. No entanto, ainda assim, é extremamente gratificante ir de encontro com os detalhes da trama e se envolver com cada passagem.
A história começa ao nos apresentar Phileas Fogg, que é um excêntrico cavalheiro britânico, pois possui toda a sua rotina calculada precisamente. Sendo um homem discreto e que não permitia que muitas informações a seu respeito vazassem para a sociedade, era membro do Reform Club, onde passava a maioria de suas tardes, jogando whist, com outros cavaleiros do clube. Após fazer uma aposta com seus companheiros, Phileas Fogg decide dar a volta ao mundo em 80 dias.
Assim, de forma lógica, a prosa de Verne é habilmente estruturada como um envolvente diário de viagem. Acompanhando Fogg e o recém-criado Passepartout, o leitor é levado a desbravar suas aventuras pelo globo, enquanto o autor descreve meticulosamente paisagens e aspectos culturais de cada lugar visitado, desde Londres até Bombaim, Calcutá, Hong Kong, São Francisco e, finalmente, de volta ao Reino Unido.
É notável a maneira como Verne não busca apenas aventuras grandiosas, mas também imerge o leitor em uma narrativa detalhada, quase como um itinerário. Muitas descrições se concentram na evolução tecnológica das viagens, abordando eventos significativos como a criação da Primeira Ferrovia Transcontinental da América (1869) e a abertura do Canal de Suez (1869), enquanto também explora aspectos mais “insignificantes” como a campainha elétrica.
De forma extraordinária, o autor consegue romantizar e fascinar o leitor com páginas e páginas dedicadas a estações de trem, fusos, horários, carruagens e outros meios de transporte, além de detalhes mais técnicos e tediosos relacionados à organização de viagens. Tudo isso contribui para uma leitura envolvente e apaixonante, à medida que somos transportados pelas páginas para esse emocionante e detalhado universo de aventuras e descobertas.
Além disso, é importante destacar que o interessante na relação do Phileas Fogg com seu criado Passepartout é que o Passepartout é o oposto de seu patrão. Sendo um jovem comunicativo, que faz amizade fácil e que fala demais. Além disso, Passepartout só estava procurando um emprego sossegado e sem muitos desafios, o que é o contrário de dar a volta ao mundo.
Fora as aventuras da viagem, a obra também nos apresenta um pequeno mistério: É relatado no começo da história que um cavaleiro distinto entrou no banco da Inglaterra, roubou uma grande quantia e saiu sem levantar suspeitas. De alguma forma, um dos principais suspeitos acaba sendo Phileas Fogg. Logo, a viagem de Phileas e de seu criado é seguida por um detetive que deseja descobrir se o nosso cavaleiro excêntrico é mesmo culpado ou não.
“A Volta ao Mundo em 80 Dias” é uma deliciosa jornada guiada por um protagonista diferente e orgulhoso. A determinação inabalável do personagem proporciona uma experiência empolgante para o leitor, que torce contra o relógio. Com isso, somos constantemente estimulados a encorajar a aventura em busca do objetivo, aparentemente absurdo, de dar a volta ao mundo em apenas 80 dias.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)