“Caindo de Paraquedas”, Kelly Yang

Por Erika Scoralick

O livro “Caindo de Paraquedas” mostra duas jovens que acabam lidando com o lado árduo da vida muito cedo. Dani já trabalha com seus 16 anos para ajudar sua mãe a pagar as contas de casa. Além disso, ela é focada em vencer um concurso de seu grupo de debate para passar em Yale com uma bolsa, para que não dê mais despesas para sua mãe. Claire, apesar de suas mordomias monetárias, tem grandes problemas em seus laços familiares. Ela vê sua mãe chorando por causa de seu pai que a trai e não recebe a mínima atenção deles sobre sua vida. Ao mudar para a casa de Dani, a vida de Claire muda de maneiras inesperadas.

Ao ser tirada de sua vida privilegiada em Xangai e mandada para estudar na Califórnia, Claire Wang se sente perdida, mas ao mesmo tempo livre pela primeira vez. Dani De La Cruz é uma aluna exemplar e está determinada a conquistar uma vaga na universidade de seus sonhos, mesmo não tendo as melhores condições financeiras. Quando sua mãe abre as portas para que Claire vá morar com elas, Dani fica furiosa por precisar dividir a casa com uma estrangeira desconhecida e mimada. Embora tentem ficar longe uma da outra, as histórias de Dani e Claire se entrelaçam, em rota de colisão, enquanto são empurradas para experiências que podem mudar seus destinos. A autora premiada Kelly Yang constrói uma inesquecível história sobre imigração, amor, trauma, família, tristeza e o poder de se fazer ouvir.

Após ler essa sinopse, cheguei à conclusão de que seria um livro de romance entre as duas personagens citadas, Claire e Dani, mas eu não podia estar mais enganada. Portanto, se você procura um livro de romance, esse não é o ideal para você, nele são abordados temas como xenofobia, abuso sexual, diferenças de classe, conflitos familiares, entre outros que não incluem um romance leve. Apesar disso, gostei do livro porque ele mostra como todos passam por dificuldades independentemente da realidade financeira. Por exemplo, a personagem Claire é rica, mas tem um relacionamento conturbado com sua família e não consegue fazer amigos até se mudar de país. Por outro lado, Dani não tem muito dinheiro e, por isso, precisa trabalhar e estudar, mas sua relação com a mãe e amigas é forte e amorosa.

Na obra, vemos duas jovens no ensino médio que são muito diferentes e acabam morando juntas, mas a interação delas só começa a evoluir para o final do livro. Dani é uma jovem que não se sente notada e valorizada por sua mãe e, por isso, está na turma de debate, luta por notas altas e trabalha para ajudar sua mãe em casa. Claire é mandada para os Estados Unidos para que consiga passar com facilidade nas faculdades de Xangai quando fizer suas inscrições, porém, nesse novo ambiente, ela vai ser alvo de xenofobia e bullying.

Na escola da Califórnia em que ambas estudam, os alunos chineses são chamados de paraquedistas, por serem intercambistas, e não se misturarem com os alunos brancos. Um momento explícito de xenofobia que acontece no livro é quando Claire e sua amiga saem da aula de inglês e conversam em mandarim no corredor, a professora escuta a conversa e repreende as duas e, dias depois, a coordenação manda um e-mail para todos os alunos dizendo que devem atentar-se para o idioma de onde estão e devem falar inglês. Paralelo a isso, Dani sofre com as aproximações estranhas de seu professor de debate, que pede para que ela almoce sozinha com ele, treine com ela em uma sala só os dois, elogie demais sua aparência, entre outras atitudes que a deixam desconfortável. As duas personagens começam a criar uma relação dentro de casa, elas conversam mais, trocam confidências sobre o que estão passando na escola e tentam se ajudar. No desenrolar da trama, alguns problemas novos surgem e outros se aprofundam, mas agora Dani e Claire conversam o suficiente para tentar resolvê-los juntas.

Esse livro é classificado para jovens adultos e, devido aos temas que aborda, acho condizente. Recomendo a leitura para aqueles que estão fugindo de livros de romance e gostam mais de livros sobre desenvolvimento de personagem.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *