“Cândido, ou o Otimismo”, Voltaire

Por Daniel Paes

Cândido, ou o otimismo - Voltaire - Grupo Companhia das Letras

Cândido, ou o otimismo é um romance escrito por Voltaire e publicado pela primeira vez em 1759. A trama acompanha o personagem Cândido, um indivíduo que passa por diversos problemas durante a sua vida, mas sempre tenta vê-los de forma positiva. Ele utiliza como base a filosofia de que tudo acontece porque tem um propósito para poder justificar qualquer absurdo que acontece diante do personagem. 

É fascinante como um livro escrito no século 18 pode se manter tão atual como este. Apesar de toda sua ambientação se passar em uma realidade muito longínqua, o tema que é abordado é universal e extremamente profundo. Nós acompanhamos um personagem que passa por diversos infortúnios de forma consecutiva. O exagero da obra, que é feito de forma cômica, demonstra o tom satírico que a história apresenta, fazendo com que a leitura seja bastante leve e engraçada. Talvez o humor da obra não atinja a todos, mas é bem provável que as aventuras de Cândido provoquem uma risada ou outra. Apesar de tudo ser apresentado de forma bem humorada, seu lado engraçado transparece uma discussão muito profunda e até mesmo melancólica. 

A vida de todos é marcada por dor e sofrimento. Nenhum indivíduo sai ileso dos infortúnios da vida. Cada pessoa lida com a dor de forma diferente. Alguns podem tentar fingir que os problemas não existem, mas outros podem fazer aquilo que o protagonista desse romance faz: argumentar que tudo aquilo que acontece tem uma razão para acontecer. Muitas pessoas se apropriam dessa ideia, acreditando que a vida tem um roteiro muito bem estruturado de causa e consequência. Não existe forma de provar se essa afirmação é correta ou não. Tudo isso é questão de perspectiva, porém certas coisas que acontecem são difíceis de justificar. 

O azar de Cândido é astronômico. Parece que tudo na vida conspira contra ele. Tudo isso é narrado de forma engraçada. Nós vamos rindo dos problemas do personagem pelo exagero delas, mas nada disso consegue ser mais cômico do que o otimismo quase inabalável do protagonista. É difícil acreditar que o personagem tira sentido dos maiores absurdos. O autor, de forma intencional, faz com que o público zombe da filosofia apresentada durante toda a obra. Porém, nenhum homem é feito de ferro. Podemos ver a mudança repentina do personagem nas páginas finais. É nesse momento que o lado otimista de Cândido desmorona.

Dessa forma, a obra de Voltaire provoca uma grande reflexão sobre qual é a melhor maneira de encararmos a dor da existência. Não existe resposta definitiva sobre a melhor forma de lidar com os problemas da vida. No entanto, para o autor, o otimismo inabalável com certeza não é uma delas. Como o próprio livro diz: O otimismo é a mania de sustentar que tudo está bem quando tudo está mal.

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