“E se fosse a gente?”, Becky Albertalli e Adam Silvera

Por Victor Jandre

O livro “E se fosse a gente?”, de Becky Albertalli e Adam Silvera, é um adorável romance LGBTQ+ cuja trama leve e divertida se assemelha a algumas comédias do início dos anos 2000. É uma sinopse simples: dois meninos se encontram no correio e é amor à primeira vista para os dois. Mas, infelizmente, nenhum deles pensou em pedir o número um do outro. Agora, na grande cidade de Nova Iorque, eles precisam encontrar-se novamente — buscando o outro de maneiras crescentemente mais absurdas.

Tanto Ben quanto Arthur, os protagonistas do livro, têm as suas perspectivas normais. Eles são adolescentes comuns com vivências comuns: o primeiro é um estudante que está em recuperação e tentando superar o seu ex, enquanto o segundo está lidando com o estresse e cansaço do seu primeiro estágio. E, talvez, por serem personagens tão cotidianos, sejam tão especiais. É fácil de se enxergar neles: não possuem poderes ou estão vivendo um momento de protagonismo na vida de qualquer um senão apenas a própria. Tudo que acontece aqui, cada virada do romance dos dois, poderia acontecer no nosso mundo contemporâneo sem muitas mudanças.

Mas o maior charme do livro está quando os dois estão juntos ao mesmo tempo: é uma narrativa de “amor à primeira vista”, mas é muito fácil de entender o porquê dessa paixão acender-se tão rápido. É o mesmo motivo pelo qual esses dois personagens do cotidiano contrastam tão bem um com o outro. Esse é o primeiro amor de Arthur, enquanto Ben está tentando superar um amor que já se foi. Enquanto Arthur dá o seu primeiro beijo, Ben ainda se lembra do seu último — dois conflitos internos que nos colocam numa posição de absurda facilidade de identificar-se não apenas com um deles, mas com os dois.

É importante perceber que o amor dos dois ainda é bastante imaturo. Eles creem que achar o outro fará a vida deles inerentemente melhor, como se um amor pudesse solucionar qualquer sentimento ruim. Eles brigam por motivos estúpidos e se machucam reciprocamente no processo, às vezes de forma irreversível. Eles não entendem os seus próprios sentimentos e agem por impulso por causa disso. Mas esse é o objetivo, e toda a infantilidade não nos faz torcer menos pelos personagens principais. Afinal, são dois adolescentes como nós já fomos. Os dois estão passando por seus primeiros, como nós já passamos. Primeiro beijo, primeiro emprego, primeira falha acadêmica, primeiro término. Experiências boas e ruins ao mesmo tempo, simultaneamente estressantes e mágicas, as quais são quase universais para todo jovem.

Emblematicamente, Becky Albertalli e Adam Silvera escreveram os seus protagonistas de maneira que eles tomem decisões questionáveis, ou até mesmo ruins, em cada capítulo. Mas, no fim do dia, juventude não é sobre isso? Arthur e Ben são como todos nós, caindo e se levantando, aprendendo mais sobre a vida a cada dia que passa. Às vezes, é fácil olhar de volta para a juventude e pensar “E se…”. Mas, ao terminar o livro, percebemos o quão bobo isso é. Adolescentes são adolescentes — isso nunca vai mudar — e todos nós já fomos adolescentes.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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