Filme: “Infiltrados na Klan”

Por Pedro Guimarães

O longa Infiltrado na Klan (2018), que mescla drama, humor negro e crítica social, é baseado em uma história verdadeira que aconteceu nos anos 70. Dirigido por Spike Lee, o filme é baseado na história real de Ron Stallworth, o primeiro policial negro a fazer parte da força policial de Colorado Springs, que conseguiu infiltrar-se na Ku Klux Klan com a ajuda de um parceiro branco. No final, a tonalidade do filme é mais de denúncia do que de sátira, mas sem se esquecer do objetivo principal do filme, que é denunciar o racismo entranhado e as raízes da questão racial nos Estados Unidos. 

O roteiro, escrito por Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e o próprio Spike Lee, é um dos pontos fortes do filme. A narrativa é envolvente e mantém o espectador atento, alternando momentos de tensão com cenas quase cômicas, como as conversas telefônicas de Ron com membros da Klan. No entanto, o humor nunca banaliza a gravidade do tema. Pelo contrário, serve para destacar o absurdo e a ignorância que sustentam o discurso de ódio. A atuação de John David Washington (filho de Denzel Washington) como Ron Stallworth é sólida e carismática, enquanto Adam Driver, no papel de Flip Zimmerman, o colega judeu que assume a identidade de Ron nas infiltrações, traz profundidade ao questionar sua própria identidade e o preconceito que enfrenta. 

Um dos aspectos mais impactantes do filme é a forma como Spike Lee conecta o passado ao presente. A história dos anos 1970 é constantemente relacionada com a realidade contemporânea, especialmente com o crescimento de movimentos supremacistas brancos e a polarização política nos Estados Unidos. A cena final, que mostra imagens reais dos protestos em Charlottesville em 2017, é um soco no estômago, lembrando ao espectador que o racismo não é uma relíquia do passado, mas uma chaga viva e presente.

A direção de Spike Lee é marcante, com escolhas estéticas que reforçam a mensagem do filme. O uso de closes intensos, cores vibrantes e referências à cultura pop da época cria uma atmosfera única. Além disso, a trilha sonora, que inclui músicas de artistas como Marvin Gaye e James Brown, não apenas ambienta o período histórico, mas também ressalta a resistência e a luta da comunidade negra. 

Curiosidades sobre o filme: foi lançado no aniversário de um ano dos eventos de Charlottesville, o que reforça seu caráter de denúncia. Outro fato interessante é que Ron Stallworth, o verdadeiro policial que inspirou a história, participou como consultor do filme e fez uma pequena aparição na cena em que seu personagem é contratado pela polícia. A trilha sonora do filme foi cuidadosamente selecionada para refletir a cultura negra da época. Spike Lee incluiu músicas como Too Late to Turn Back Now (Cornelius Brothers & Sister Rose) e Say It Loud – I’m Black and I’m Proud (James Brown), que reforçam a mensagem de resistência e orgulho racial. Uma das cenas mais perturbadoras do filme mostra um membro da Klan exibindo um boneco de um bebê negro enforcado. Essa cena foi baseada em relatos reais de objetos racistas usados por membros da Klan para incitar o ódio. No filme, o personagem de Ron Stallworth mantém conversas telefônicas com David Duke, o então líder da Ku Klux Klan. Na vida real, Duke realmente se correspondeu com Stallworth, sem saber que ele era um policial negro. Duke chegou a enviar uma foto autografada para Stallworth, que ele guardou como troféu.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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