Filme: “Vidas Passadas”

Por Bruna Maciel

“Se você está deixando algo para trás, também ganha algo em troca” é a frase que define gentilmente Past Lives (2024). No drama, brilhantemente dirigido por Celine Song, Nora Moon (Greta Lee) deixa para trás todas as possibilidades de vivenciar o amor com Hae-Sung (Teo Yoo). Apaixonados desde a infância, os protagonistas são repentinamente separados quando Nora Moon se muda com a família para os Estados Unidos, enquanto Hae-Sung continua na Coreia. Mesmo separados por anos, os protagonistas continuam nos pensamentos um do outro até se reencontrarem virtualmente e retomarem contato. Ambos seguem perseguindo o passado e orbitando na caixa das possibilidades, do “e-se”. Percebendo como isso impede sua vivência no presente, Nora corta contato novamente com Hae-Sung, e eles retomam para suas vidas sozinhos, com o amargor da melancolia na língua, sendo repetidamente impedidos de vivenciar sua paixão.

O longa-metragem nos mostra a vida de Nora no presente, onde ela é feliz, casada com Arthur e trabalhando como escritora, e Hae-Sung, que resolve viajar em suas férias para reencontrá-la. O silêncio de seu reencontro, do abraço nostálgico que eles trocam, a melancolia das cenas deles juntos enquanto andam pela cidade é absurdo. Celine consegue, com sua filmografia e os atores com sua divina atuação, nos emergir nos sentimentos que ambos sentem ao se encontrar, causando um misto de tristeza. E Celine não engana, logo fica visível que o destino de Nora e Hae-Sung não é ficarem juntos, tampouco o filme é sobre isso. Past Lives demonstra com maestria como pessoas que parecem perfeitas uma para outra não conseguem ficar juntas, e como isso se torna uma bagagem emocional que cada um carrega ao longo da vida. 

Embora Nora e Hae-Sung sejam apaixonados pela versão jovem um do outro, eles não são mais aquela pessoa, e quem eles são agora não possibilita encaixe, não importa o quanto ambos ainda busquem o passado. Mesmo que Nora ainda oscile entre a garotinha que ela era e os sonhos que ela possuía, ainda sonhe em coreano, ainda chore por ele, ainda que Hae-Sung traga sentimentos à Nora de “lar”, do passado que ela deixou para trás, sentimentos que, por vezes, seu próprio marido Arthur não é capaz de proporcionar, eles nunca existirão naquela vida, só no passado e na imaginação. Nora e Hae-Sung oscilam de forma primorosa e comovente entre o sentimento de serem completamente diferentes da versão deles mesmos mais novos, pela qual eles se apaixonaram, e, ao mesmo tempo, ainda serem as mesmas pessoas, e essa oscilação ser a causa pela qual eles não conseguem ficar juntos. 

Tudo em Past Lives é de se assistir com um incômodo na garganta, bochechas quentes e lágrimas da sutil realidade da vida. Past Lives não é sobre vidas passadas, é sobre seu passado na vida, e como a não realização e superação dele podem nos seguir, emocionar e aprisionar por toda a vida. A vida não vivida é uma constante para Hae-Sung e Nora, mesmo que estejam vivendo outra vida. E Celine Song vai além da relação de Nora e Hae-Sung, não é apenas a relação não vivida entre eles dois que é uma constante para Nora, e sim como seria sua vida se ela permanecesse morando na Coreia do Sul. Como sua vivência seria diferente, atravessada pela cultura e costumes coreanos, falando sua língua materna. Tudo na construção do filme leva ao confronto entre a vida que os protagonistas estão vivendo e a felicidade que ela proporciona, e como seria a vida que eles poderiam ter vivido. 

Entretanto, assim como a realidade, Past Lives primorosamente nos demonstra que não podemos viver colecionando “e se?” E que, mesmo que seja dilacerante ver quão forte seja a conexão deles e que isso ainda não seja suficiente, pois a vida exige outras dinâmicas, ainda assim, ambos entendem seus respectivos papéis na vida um do outro. Embora Past Lives carregue a melancolia do passado, é sobre o presente, uma realidade que facilmente gera conexão com o telespectador, pois fala sobre a vida. Parafraseando o cantor também sul-coreano RM, em sua música “Change pt.2”, cujo trecho resume Past Lives perfeitamente: “As coisas mudam, as pessoas mudam, o amor muda, os amigos mudam. Todos mudam. Não é estranho, esse é o formato do mundo.”

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

1 thoughts on “Filme: “Vidas Passadas””

  1. Para falar a verdade ela n lbrava o nome do rapaz a mãe que lembrou,ele realmente gostou e ainda gostava dela .Ela por sua vez resolveu por sua própria vontade não falar mais com ele porque ela tinha ido a New York realizar sonhos. Acabou casando com um cara mas parecia um fraco e fracassado e suas ambições pareciam também perdidas no passado. Não gostei do enrredo

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