Por Gabrielle Gonçalves
“Inocência” é um romance do naturalismo brasileiro escrito por Afonso Henriques de Lima Barreto, sob o pseudônimo Visconde de Taunay. A trama se desenrola na região do Pantanal, em Mato Grosso, durante a segunda metade do século XIX. O romance é marcado por características do naturalismo, explorando temas como determinismo, ambiente hostil e as influências do meio sobre os personagens.
A história gira em torno da personagem-título, Inocência, uma jovem índia da tribo guaicuru, e sua relação com Cirino, um mestiço que se muda para a região. A trama é permeada por elementos que exploram a natureza selvagem do Pantanal, bem como os conflitos culturais e sociais entre as tribos indígenas e os colonizadores. Inocência é apresentada como uma figura símbolo da pureza e da ingenuidade, enquanto Cirino representa as complexidades e contradições da cultura mestiça.
O ambiente natural desempenha um papel crucial no romance. Taunay descreve de maneira detalhada e vívida o Pantanal, destacando suas belezas exuberantes e desafios inerentes. A natureza é retratada como um cenário imprevisível e muitas vezes hostil, contribuindo para a construção da atmosfera do romance e influenciando as ações e destinos dos personagens.
A abordagem naturalista de Taunay é evidente na análise dos personagens em relação ao meio ambiente. O autor explora como a condição geográfica, o clima e a vida selvagem impactam o comportamento e as escolhas dos personagens. Essa abordagem determinista reflete as ideias naturalistas da época, que acreditavam que o ambiente físico influencia diretamente o desenvolvimento humano.
O romance também aborda questões sociais e culturais, destacando os conflitos entre colonizadores e indígenas, bem como as tensões entre diferentes grupos étnicos na região. A figura de Inocência representa a visão romântica do “bom selvagem”, enquanto os conflitos narrados revelam as contradições e injustiças presentes na sociedade brasileira do século XIX.
A linguagem de Taunay é rica em detalhes e poesia, proporcionando uma representação vívida do cenário e das emoções dos personagens. A obra também destaca a capacidade do autor em construir diálogos autênticos e explorar as nuances psicológicas de seus protagonistas.
Em resumo, “Inocência” é uma obra emblemática do naturalismo brasileiro que oferece uma perspectiva única sobre a vida no Pantanal durante o século XIX. A trama, envolta em uma atmosfera poética e, ao mesmo tempo, crua, explora as complexidades das relações humanas e culturais em um ambiente desafiador. A obra de Visconde de Taunay continua a ser apreciada como uma contribuição significativa para a literatura brasileira, oferecendo uma visão profunda e reflexiva sobre as forças naturais e sociais que moldam a existência humana.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)