“Íon”, de Platão

Por Lívia Moura

Platão, filósofo grego e grande pensador que viveu entre os séculos V .a.C e IV .a.C foi um pioneiro na teoria literária e uma delas é conhecida como “A república”, onde o fundador da primeira escola de ensino superior do ocidente, escreveu diversas críticas a poesia e ao poeta em seus diálogos.

O filósofo acreditava que os poetas deveriam ser expulsos do estado por não estarem passando um conhecimento edificante para a sociedade e sim apenas “jogando histórias ao vento”. 

Em sua literatura “íon”, o aluno de Sócrates faz questão de criticar o rapsodo (na Grécia antiga, recitador profissional de poesias épicas), insinuando que o poeta estaria possuído por uma musa ao recitar suas rapsódias.

Com uma breve leitura da obra “íon”, podemos identificar questionamentos de Sócrates em relação à íon, um rapsodo que acabara de ganhar uma competição de rapsódias ( trechos de poemas épicos recitados pelo rapsodo). O poeta alegava ser especialista apenas em Homero, alegando que Homero era o melhor em poesias. 

Dessa forma, Sócrates o rebate lhe questionando se realmente o jovem tinha a técnica da poesia, visto que é conhecedor das obras de um único pensador e não conseguiria discernir uma obra boa de uma ruim. Após essa discussão, Sócrates chega à conclusão da “teoria das musas”, que diz que o poeta não possui a técnica poética, mas que na verdade ele estaria possuído por uma divindade, não estando no controle de suas faculdades mentais.

Desse modo, inicia-se a “teoria da inspiração”, onde Platão sugere que a poesia teria um discurso falso e perigoso, no qual deve ser controlado pela razão e não por divindades que possuem o poeta para atrair o povo para ouvir suas rapsódias mal intencionadas.

Para o filósofo, o poeta trazia à sociedade uma conduta imoral aos receptores, pois fazia com que eles tivessem ações que contradiziam com a visão de cidade ideal de platão e sendo assim, deveriam ser expulsos para não desviar o povo.

Na época de Platão, os jovens eram educados por meio das epopeias homéricas. As ouviam diariamente e delas absorviam parâmetros de conduta, noções de honra e bondade. Atuando no plano afetivo, cognitivo e comportamental, as artes deveriam servir para inúmeras funções sociais.

A poesia, em seu sentido amplo, representa as ações do ser humano e ao representá-los trás a empatia, esse sentimento que nos faz sentir a emoção do outro. A empatia em si é moralmente neutra, mas torna-se desejável ou perigosa segundo os personagens com os quais somos guiados a nos identificar.

Assim, quando os homens imitados  apresentam comportamentos condenáveis (como Édipo, Medeia, Menelau, Helena e até mesmo Aquiles, com seu ódio), ela induz o espectador a maus pensamentos.

Os crimes, disputas, estupros e traições dos deuses do Olimpo fornecem, do ponto de vista do filósofo, tristes modelos a serem seguidos.

Platão diz que o poeta é tentado a reproduzir tais características não por alguma depravação moral, mas pelas necessidades de sua arte.

Deve-se ter em mente que, para Platão, o mecanismo psicológico da empatia descarta o uso da razão. Ao se dirigir à parte sensível e irracional da alma, a sensibilidade e a afetividade alimenta no espectador sentimentos ruins que acabam fortalecendo emoções indesejadas, que deveriam ser mantidas afastadas. 

Sob esse viés, infere-se que devido a isso, Platão acreditava que era necessário expulsar da cidade os poetas cuja arte, cuja forma e conteúdo, sustenta e desenvolve a face sombria do homem e os desvia da pureza, os levando para longe de suas faculdades racionais.

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