Por Victória Rodrigues
O milionário Aristide Leonides possui muitos poderes e aproveita sua velhice em uma grande casa, em que vive com seus filhos, netos e sua jovem esposa. Uma noite, então, o velho é encontrado morto. A causa: envenenamento. E o culpado está à solta… dentro da casa. Charles Hayward, filho de um dos detetives do caso e também namorado de Sophia de Havilland, neta do falecido Leonides, investiga o caso e junta-se à família na intenção de, ao entrar como membro da complicada família, desvendar por meio dela o real assassino.
“Não acho, pela minha experiência, que algum assassino já sentiu remorso. E essa, talvez, seja a marca de Caim. Assassinos são uma categoria à parte, são “diferentes”: assassinato é errado, mas não para eles. Para eles, é necessário… a vítima ‘estava pedindo’, era ‘o único jeito’”. (Christie, 2021, pág. 95).
Agatha Christie, nesta obra, não utiliza nenhum dos seus detetives policiais famosos, mas apresenta Charles como novato no ramo investigativo, que representa também o saber desconhecido do leitor. Apesar da trama conter todo o majestoso estilo da Rainha do Crime, há falhas como personalidades contraditórias e rasas demais, assim como a falta de sagacidade de Charles, para alguém que soluciona o crime e, que ao longo da narrativa, perde algumas pistas interessantes por falta de atenção. Apesar de conter algumas falhas, o livro foi adaptado para cinema com o filme A Casa Torta (2017) e, mais recentemente, o livro foi inspiração para o filme Entre Facas e Segredos (2019), estrelado por Daniel Craig e Ana de Armas. O último consegue superar o livro pelo enredo final mais coerente e condizente.
Christie, logo no prefácio, relata que o livro é um dos seus favoritos. Entretanto, não é um dos melhores. Seu desfecho não responde a algumas perguntas e as respondidas são decepcionantes demais, não é suficiente para passar despercebido por toda a família e tão pouco para agradar leitores.
“— Josephine, ninguém nunca lhe disse que não se deve ficar ouvindo por trás das portas?
[…]
— É claro que me disseram isso. Mas se você quer descobrir as coisas, você tem que ouvir por trás das portas. ” (Christie, 2021, pág. 74).
Personagens de uma grande família, repleta de personagens e personalidades, com idades e diferentes histórias, todos com os propósitos de quererem o magnata morto. Mas para o comodismo era conveniente culpar a jovem esposa do falecido, Sra. Leonides, Brenda, que também guardava segredos que a colocavam na reta. A possível culpa em Brenda é óbvia demais, por isso, é preciso que Charles observe com mais atenção, visto que as respostas estão evidentes pela casa.
“Acho que, em geral, as pessoas matam as pessoas que amam, e não as que odeiam. Talvez porque somente as pessoas que você ama podem tornar sua vida realmente insuportável” (Christie, 2021, pág. 95).
Como uma grande admiradora de Agatha Christie, adorei a obra. Mas não é uma das melhores obras da autora, e com toda certeza, o filme mais recente cumpre com uma conclusão mais verdadeira e divertida, tal qual foi a intenção empregada na obra. Se o leitor busca uma revelação surpreendente e condizente, essa não será uma boa leitura.
REFERÊNCIAS
CHRISTIE, Agatha. A Casa Torta. Tradução de Débora Landsberg. – São Paulo: Arqueiro, Porto Alegre, L&M, 2021. 188 pág.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)