Por Erika Scoralick
O livro de Coco Mellors vai trazer as nuances de um relacionamento comum e impulsivo. Os personagens principais, Cleo e Frank, são muito intensos e isso vai refletir em como eles constituem o amor. Vemos problemas reais e dolorosos no desenvolvimento da narrativa.
Cleo, uma pintora inglesa de vinte e quatro anos, ainda está tentando encontrar o seu lugar na intensa Nova York, quando, alguns meses antes de seu visto de estudante vencer, conhece Frank. Vinte anos mais velho, o publicitário Frank tem uma vida repleta de todos os excessos que faltam à de Cleo. Ele oferece a ela a chance de ser feliz, a liberdade para pintar e a oportunidade de conquistar um visto permanente. Ela proporciona a Frank uma vida regada à beleza e à arte – e a esperança de ser uma razão para que ele coloque fim às bebedeiras. Mas o casamento por impulso muda a vida deles de forma irreversível, assim como a daqueles que estão próximos a eles, de uma maneira absolutamente imprevisível. Cada capítulo explora a vida de Cleo, Frank e de um elenco inesquecível de amigos e familiares mais próximos enquanto eles crescem e amadurecem. Cleópatra e Frankenstein é um romance de estreia surpreendente e dolorosamente factível sobre as decisões espontâneas que moldam toda a nossa vida e aqueles relacionamentos imperfeitos nascidos em noites tão perfeitas quanto inesperadas.
O livro aborda um emaranhado de relacionamentos que tem como centro Cleo e Frank. Vemos, em alguns momentos, a perspectiva de personagens ao redor dos protagonistas, como a irmã de Frank, que tem um arco próprio que acontece paralelamente ao do irmão. O casal é composto por duas pessoas de idades e passados muito diferentes, que vão ter dificuldades na relação por conta disso. O relacionamento entre esses dois personagens é caótico e cheio de reviravoltas. Tudo possível de dar errado acontece, até a morte mais triste possível do animal de estimação.
Cleo é uma artista como qualquer outra que se orgulha de ser desconstruída e criativa, mas ela é uma pessoa sozinha que não tem uma rede de apoio segura. A mãe morreu cedo e os momentos que passaram juntas foram afetados pela depressão que ela enfrentava. O pai saiu de casa e criou outra família, deixando Cleo e sua mãe à mercê. O único amigo em sua vida é egoísta e só quer o bem da Cleo se envolver ele. Ela conhece o Frank e se agarra nele como uma anêmona ao coral, e o relacionamento deles evolui muito rápido.
Frank teve uma infância difícil, com uma mãe pouco afetiva e alcoólatra, um pai ausente e uma irmã dependente de seus cuidados. Mas sua rede de apoio é bem forte; ele conta com dois amigos que estão sempre ao seu lado, ajudando-o.
A questão mais recorrente no livro é a dependência que os indivíduos têm um do outro. Cleo se apoia em seu marido para tudo, depende dele para ir aos eventos, para viajar e para ter onde morar. Frank depende do amor da Cleo para viver; ele é um homem que cresceu em um ambiente de pouco amor, então se agarra à paixão que a mulher exprime. O problema começa quando essa dependência se torna extrema e maléfica para os dois e, cada um procura um jeito de suprir a ausência que começa a aparecer. O relacionamento muda de amoroso para briguento e solitário.
É um livro que aborda assuntos fortes como depressão e alcoolismo, por isso não dá para ser lido tão rapidamente. Durante a leitura, tive que fazer algumas pausas para refletir sobre o que eu tinha acabado de ler e também para respirar após ler de forma tão realista as dores dos personagens. As mudanças que Cleo e Frank passam ao longo da narrativa são difíceis porque acontecem de dentro para fora, e o modo como essas diferenças foram narradas aprofundou muito mais a narrativa, fazendo com que o leitor se conectasse mais com a pessoa no papel.
Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ)