Livro: “Frankenstein”, Mary Shelley

Por Daniel Paes

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Darkside Books, 2017

Frankenstein ou o Prometeu Moderno é um romance escrito por Mary Shelley e publicado pela primeira vez em 1818. O livro conta sobre um homem denominado Victor Frankenstein, um cientista que cria uma criatura a partir dos restos mortais de outros indivíduos. Após a criação desse novo ser, diversos desdobramentos macabros e melancólicos se desenvolvem durante a trama.

Não há obra que retrate de forma mais exemplar a dor da existência como o faz esse romance. O ser criado por Victor engloba toda a indignação que sentimos ao viver. O monstro, assim como todos nós, não pediu para existir, mas de qualquer forma ele vive. Sua presença na sociedade não é aceita devido à sua aparência grotesca, nenhum indivíduo é capaz de demonstrar afeto por ele. Nem mesmo o seu criador, que o abandona logo quando percebe a “monstruosidade” que tinha concebido. Portanto, temos um ser que veio ao mundo apenas para sofrer, sem nenhum carinho e propósito.

Apesar de não sermos uma criatura derivada de cadáveres, todos já compartilhamos desse questionamento que aflige a alma de tantos: Por que viver quando há tanta dor e sofrimento nesse mundo?

Assim, a obra Frankenstein vira uma metáfora para o abandono. O monstro é um ser invisível aos olhos dos outros, pois é constantemente negado, negligenciado e marginalizado. O personagem representa todos aqueles que, de alguma forma, são ignorados, seja por um indivíduo específico, seja por uma sociedade.

Apesar de toda essa camada de significado, o livro ainda consegue causar uma grande reflexão sobre a relação do ser humano com a ciência. Quão longe a humanidade deve ir em termos de avanços? Será que Victor tem o direito de criar uma vida a partir do nada, ou estaria ele brincando de ser Deus? O próprio título do romance ressalta esse aspecto, pois faz referência a Prometeu, um titã que foi contra a vontade dos deuses e depois foi punido por isso. No entanto, o romance vai além de simplesmente questionar se a iniciativa é ética ou não. A obra tem como objetivo principal demonstrar o quanto uma atitude negligente no campo científico pode acarretar consequências desastrosas. J. Robert Oppenheimer foi revolucionário no meio científico, mas foi essa mesma revolução que criou a bomba atômica. Qual o preço que devemos pagar em nome da ciência?

Portanto, o livro de Shelley evidencia a importância da responsabilidade na tomada das nossas decisões. Victor foi inconsequente quando não pensou nas repercussões de sua criação e irresponsável quando a abandonou em um mundo onde ninguém a aceitaria. A maior monstruosidade não veio da criatura, mas de Victor. Apesar de muita confusão relativa a isso, Frankenstein é o nome do criador. Na realidade, ele é o verdadeiro monstro de toda a obra.

Esta resenha faz parte da série Autores da Torre, do Projeto de extensão Torre de Babel, da Biblioteca José de Alencar (Faculdade de Letras/UFRJ) 

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