“O Corcunda de Notre-Dame”, Victor Hugo

Por Vitor da Hora

Símbolo da arquitetura gótica medieval na capital francesa, a Catedral de Notre-Dame (Nossa Senhora, em francês) de Paris erguida no século XIV, após quase duzentos anos de construção, faz parte do imaginário cultural parisiense – ao longo de sua extensa história foi recorrentemente referenciada na literatura, como no apogeu do romantismo na França do século XIX, a exemplo do livro homônimo de Victor Hugo. Hugo, nascido em 1802 na cidade de Besançon situada na região do Franco-Condado, ainda criança foi morar na capital francesa graças ao trabalho de seu pai que, como militar, se mudava de cidade com frequência. Criado em uma família bastante politizada – a carreira militar de seu pai ascendeu graças aos seus vínculos com o bonapartismo, enquanto sua mãe, no lado oposto, era uma católica fervorosa e defensora da dinastia Bourbon – Hugo primeiramente pendeu para o conservadorismo de sua mãe, vindo a adotar ideais liberais e republicanos após iniciar sua vida como literato: foi eleito deputado da efêmera 2ª República Francesa (1848-1851), e chegou a ser exilado após o auto-golpe de Luís Bonaparte em 1851; seus valores republicanos ficaram imortalizados em sua obra, como nos romances Os miseráveis (1862) e Os trabalhadores do mar (1866). Faleceu aos 83 anos, em 1885, vitimado por uma pneumonia, gerando comoção nacional graças ao seu prestígio literário e político.

Notre-Dame de Paris, também publicado como O corcunda de Notre-Dame, publicado em 1831, foi seu primeiro romance de destaque: o drama histórico narra a sociedade parisiense medieval através de seus personagens. O protagonista, Quasímodo, é uma pessoa com deficiência – com deformidades no rosto, surdez e sendo corcunda – que foi abandonada na infância e resgatado na infância pelo frívolo Claude Frollo, que o designa a cuidar dos sinos da catedral, isolando-o da sociedade por conta de sua deficiência. Ambos sentem uma paixão não-correspondida pela cigana Esmeralda – enquanto Quasímodo nutre um ingênuo amor platônico, Frollo desenvolve uma reprimida obsessão sexual por ela – que mantém um relacionamento com o poeta Pierre Gringoire quando, na verdade, é apaixonada pelo capitão da guarda real (Phœubus), apesar do mesmo também ser comprometido. A obsessão doentia de Frollo por Esmeralda é a força motora do enredo. 

Mesmo que o desenrolar da trama ocorra através da série de desencontros amorosos dos personagens do livro, como é comum nos folhetins românticos, o drama histórico impressiona ao tratar de questões como repressão policial, abuso de poder por parte da Igreja Católica e seus representantes, e eugenia: ao formar um minucioso retrato social da França medieval e as mazelas legadas por ela, e, por este motivo, transformou-se um dos principais clássicos da literatura francesa oitocentista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *