Era uma vez um menino da favela do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, de 8 anos, que achou um livro no lixo. Ele levou esse tesouro, um conto espanhol chamado “Dom Gatóm“, para casa. Leu na noite do dia seguinte, à luz de velas, porque tinha acabado a eletricidade no barraco. A partir de então, o mundo paralelo do morro ficou pequeno para ele.
“Sei, por experiência própria, que as crianças daqui têm uma visão muito estreita do mundo. Quase não saem da favela. Tudo é perto. A escola, a igreja, o campo de futebol, o mercadinho, as ONGs. Muitas nem conhecem a praia. Ficam presas aqui dentro. Foi a leitura que me libertou dessa prisão”, escreveu Otávio Júnior, hoje com 27 anos, em seu primeiro livro, o ótimo “O Livreiro do Alemão” (Panda Books, 2011).
Voraz, ele passou a pedir obras emprestadas aos vizinhos. Leu tudo o que lhe caiu nas mãos, de Monteiro Lobato a um “Manual do Proprietário” do Passat, 1980. Livre, quis libertar outros. É contador de histórias, ator e produtor teatral. Mas se apresentou à reportagem do DIÁRIO como “promotor de leitura”. Desde 1998, atua junto a crianças. Além de incentivar a leitura, também escreve contos, roteiro de histórias em quadrinhos e faz poesias infanto-juvenis.
Em “O Livreiro do Alemão”, Otávio conta com lirismo raro a experiência de se descobrir por meio da leitura e se abrir para o universo imenso que os livros trazem à alma. Conta ainda sua experiência como incentivador de leitura em comunidades carentes. Apesar de ser seu trabalho de estreia, o livro deixa denotar o escritor burilado em milhares de textos escritos para si mesmo e o leitor ávido das obras de tantos outros.
Projetos: Otávio coordena o projeto cultural Ler é 10, nos Complexos da Penha e do Alemão. “Nosso sonho é levar livros para todas as comunidades dos complexos. Usamos a criatividade para fomentar a leitura com grupos escolares e nas casas de moradores com a biblioteca itinerante”, explica.
Fonte: Diário de São Paulo