Talvez – MC Poze do Rodo

Por João Pedro Mafalda

O MC Poze do Rodo lançou recentemente, em novembro de 2022, seu álbum intitulado de “O Sábio”, e nesta discografia o cantor relata em cada faixa acontecimentos de seu passado. Antes de falar sobre a música que será apresentada nesta resenha, é necessário que se fale sobre quem a canta. “Poze do rodo” é o nome artístico de Marlon Brandon Coelho Couto Silva, de 23 anos, nascido e criado na Comunidade do Rodo, localizada na zona Oeste do Rio de Janeiro. O começo de carreira do cantor é bastante polêmico, visto que começou sua trajetória na música cantando funks que faziam apologia a facções criminosas e com a criminalidade do Rio de Janeiro, fatos que porém nunca escondeu, no entanto o cantor consegue repassar para quem ouve como é a verdadeira realidade nas comunidades carente do Rio de Janeiro, e que ele não conseguiu escapar disso, assim como outros recentes cantores que estão surgindo no cenário da música brasileira atual.

Através do gênero funk, Marlon viu uma nova oportunidade de se distanciar das drogas e dos crimes e assim construir uma nova carreira. Em 2019, o cantor fez sucesso com os hits “Tô voando alto” e “Os coringas do Flamengo”, além de gravar vídeos em vitórias do time rubro-negro que viralizaram na internet na época. Hoje em dia, Marlon está mais presente no cenário do chamado trap, que diferente do rap, possui um estilo mais acelerado e com as letras que falam mais sobre ostentação do que histórias de vida ou realidade, como no rap.

No entanto, a faixa apresentada nesta resenha se aproxima mais do rap. Utilizando elementos de sua antiga rotina, o cantor relata a violência vivida diariamente por moradores de comunidades do Rio de Janeiro, fazendo críticas ao governo do Estado e a sociedade. A música se inicia com uma espécie de apresentação de si mesmo, mas que ao decorrer dela é mais uma narrativa de acontecimentos que assolam o Rio de Janeiro. Um dos trechos mais marcantes no início da música é quando ele canta: “Lá no morro, o pau quebra, o clima sempre esquenta/As criança com medo não aguenta mais”, relatando a realidade das crianças que moram nas comunidades dominadas pelo tráfico e que pouco entendem o porque de frequentemente existirem confrontos que os fazem temer pela própria vida e não poderem ser crianças, não poderem brincar na rua com medo de serem pegas no meio do fogo cruzado.

Nos versos seguintes, Poze faz uma dura crítica da Polícia Militar e ao governo do Estado, quando diz nos versos: “E se eu disser que a polícia tá matando quem acorda 5 da manhã pra trabalhar tentando ser alguém?/E se eu disser que, na verdade, o sistema é mó covarde/Vê o povo passar fome e não ajuda ninguém ”, fazendo assim uma denuncia a violência policial sofrida por moradores que saem de suas casas de manhã para irem trabalhar e são mortos pela polícia, sendo “confundidos” com criminosos, e também ao governo que se diz lutar contra a fome mas não age efetivamente no combate a ela.

No trecho seguinte, Poze faz menção a união que os moradores de comunidade possuem entre eles devido ao preconceito que sofrem por morarem em favelas, ao cantar: “Favelado tem que se juntar com favelado pra fazer acontecer/Porque eles nunca vai fechar com nós/O papo é que nós incomoda e nós é pitbull de raça/Pode tentar, mas vocês nunca vai calar minha voz”. O refrão da música é como um pensamento de que mesmo com todas as dificuldades que passam, ele acredita que as comunidades viverão dias melhores no futuro, ao dizer: “Mas talvez/Meu povo se levanta algum dia/Mas talvez/A paz reine pelas periferia/Mas talvez/Meu morro volta a viver com alegria”

No decorrer da música, Poze cita a violência ocorrida em diversas comunidades do Rio de Janeiro, como por exemplo a Vila Cruzeiro, Morro do 18, Rocinha, Cantagalo, Vila Kennedy, Fazendinha, Morro da Fé e Jacaré. Ao citar estas comunidades, Poze menciona a chacina que ocorreu na Rocinha, ao cantar: “O medo tá assombrando o povo que vem da Rocinha/Mais de quinze morto pela chacina/Presente do dia da mãe é ter o filho morto na esquina”. Logo no verso seguinte, o cantor menciona os políticos que cometem e falam atrocidades e também de um caso que até hoje continua sem uma resposta, ao dizer: “Político safado protegido pela lei/O galo canta, mas não canta mais no Cantagalo/Quem mandou matar Marielle?Até agora eu não sei”. Poze faz uma menção ao assassinato da vereadora Marielle Franco ocorrido em março de 2018, onde todos sabemos que ela foi morta por ser a que enfrentava a polícia militar e as milícias, denunciando o abuso das autoridades contra moradores de comunidades carentes e a favor dos direitos humanos.

Já nos versos finais, Poze contrasta os velhos tempos onde viver nas comunidades era mais tranquilo com a atualidade, ao dizer: “Da Fazendinha ao Jacaré, VK até o Morro da Fé/Morador tá sujando a bandeira branca com sangue/Saudades dos tempos antigos que eu, minha mina e meus amigos/Podia subir o morro pra curtir um baile funk”. Dessa forma, ele faz uma menção a constante violência, que nem para curtir na própria comunidade é possível de ter uma sensação de segurança.

Não sou um grande fã de trap, mas ao ouvir esta música na barbearia onde corto meu cabelo aqui pelo meu bairro, pude perceber que era mais no estilo do rap e me interessei por ela. Uma letra forte e que ao mesmo tempo conta parte da história de vida do cantor e sobre a realidade de grande parte dos cidadãos do Rio de Janeiro. Também não sou grande fã do MC Poze do Rodo, devido a algumas questões polêmicas em que o cantor já se envolveu, mas que segundo seus amigos, ele está mudando seu pensamento a cada dia. Vale também assistir ao videoclipe da música disponível no YouTube, pois nele mostra essa realidade. No mais, é uma letra e uma música que vale a pena ser ouvida, pois passa uma mensagem forte e realista, que muitos preferem não saber sobre, mas que julgam sem pensar duas vezes.

REFERÊNCIAS
https://www.letras.mus.br/mc-poze/talvez/
https://www.ofuxico.com.br/noticias/saiba-quem-e-mc-poze-e-as-polemicas-que-envolve
m-o-funkeiro/
https://pt.wikipedia.org/wiki/MC_Poze_do_Rodo
https://www.youtube.com/watch?v=QQQqkDD7i8Y&ab_channel=MCPozedoRodo

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